segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gênio, Criativo, Único!


                                           


Conversei com o Claudinê Albertini, um grande gênio do rádio.
Confira:


1) Onde tudo começou para você no mundo do rádio?

Como ouvinte, foi em Bambui, minha terra que fica no centro oeste de Minas.
A única rádio que se ouvia por lá desde o começo do dia (as cidades do interior acordavam com ela) era a Inconfidência, a nossa Nacional daqui (foi inaugurada uma semana antes da Nacional do RJ)
Embora eu morasse no centro da cidade, lembre era um programa sertanejo “Cumpadre Belarmino”, ou Bentinho do Sertão.
Tinha cheiro de fazenda, roça, sertão.... Eu era apaixonado por rádio desde os meus 3 anos de idade.
Quem diria que um dia eu teria tal honra em criar uma outra rádio (FM) la na própria, a Brasileiríssima ou a nova Inconfidência FM ,hein?
Eu gostava tanto da rádio que ganhei numa “birra” o direito de vir visitar a rádio aqui em BH. Minha mãe Geralda Farah e meu pai Augusto Albertini me trouxeram.
Foi a primeira vez que o menino Claudinê veio para BH onde conheci a rádio na Feira de Amostras. Foi um sonho realizado.
Poucas rádios chegavam com seu sinal ao interior mineiro por AM. Pegavam à noitinha e no inicio do dia iam desaparecendo.
Fui descobrindo à medida que surgiam novos aparelhos, que havia muito mais além das Ondas Longas, as Médias e Curtas. Os aparelhos eram chamados de rádios “rabo quente”. Claro que depois os aparelhos de rádio se modernizaram. Viraram já no final de 50 as eletrolas.
Fui ouvindo as rádios uma a uma em oc. de dia, conhecendo o meu país através do rádio. Foi mais ou menos parecido com aquela mesma paixão, quase loucura de ficar procurando novidades na internet a partir de 99. O Brasil da Nacional do Rio de Janeiro e suas novelas(Gerônimo, o herói do Sertão, O Anjo) programas de auditórios(Cesar de Alencar) orquestras ao vivo(Radamés Gnatalli) a Orquestra Tabajara de Severino Araujo, além de nomes como Ângela Maria, que eu amava, o Luiz Gonzaga e tantos outros nomes da nossa MPB. Ouvia ainda programas da Rádio Bandeirantes (Pic Up do Pica Pau) além do futebol a Cultura de SP e Eldorado.. Já eram diferentes entre si na linha musical.
Depois de terminar o Primário e o Ginasial, como muitos colegas, viemos para a cidade grande, nossa linda capital BH.No entanto foi com a bossa nova que surgiu por volta de 58 ou o rock do Elvis e suas variantes, que foram mudando a cara e segmentos do nosso rádio. A chegada da nova MPB, a música e a voz do João Gilberto (mais intimista) abriam espaço para outras ondas, outras alternativas.
Isto foi praticamente definindo os campos de audiência e gostos da época em que vivi minha adolescência pelo rádio (mesmo o rock da Cely Campelo, Sergio Murilo etc.) Nossa pré jovem guarda em São Paulo, onde era mais fortes que o Rio no segmento.
Ainda estudante, ouvia a Mundial (em OT) Big Boy, que criou seu estilo de comunicar com aquela voz rouca.Com a chegada da TV, o rádio sofreu muito e perdeu grandes profissionais que migraram para nova onda, a TV.Vieram os vários estilos, como por exemplo, aTamoio correspondente à Mineira daqui de BH. Era o slogan, Música somente música. De um lado as “musicais e de outro as ecléticas (futebol esportes, serviços). Aqui em BH, era ouvinte da Mineira (Marco Aurélio, Weber Borges) .Muita MPB, festivais e hits internacionais.
Naquele tempo (evangelho ahaha) eram as preferidas pelos estudantes.
Tinha o factorama, programetes jornalísticos com poucos minutos entrecortando a programação musical nas horas cheias. Conheci tudo isto quando fui cantor da TV e comecei justamente na Inconfidência e mais tarde fui para a TV Itacolomi(Brasa 4).
Mais tarde, mais uma mudança ocorreram aqui em BH com o surgimento da Rádio Cultura AM( soul, rock, pop) que fez um furor no mercado, bem mais jovem e irreverente(Geraldão) Caiu no gosto do estudante.
No esporte, ouvia a Guarani ou a Inconfidência(Jairo Anatólio ). Mais tarde veio o Vilibaldo para a Itatiaia e bem mais tarde ainda o Willie Gonzer com o Alberto Rodrigues. (estão por aqui até hoje)
Os estilos mudavam e passei definitivamente a ouvir a Itatiaia AM e sou fiel ouvinte até hoje à escola(que também precisa mudar). Ainda usa termos do tipo: TENTOS(????)
O time tal venceu por dois tentos a zero(ahahah) Passa batido né?
Mas existem em outros meios, GURI, que soa meio antigo não???? Não é expressão de hoje né?
Mas é um rádio altamente profissional e meus parabéns aos projetos mineiríssimos do grande Januário e tocados com muita competência pelo Emanuel Carneiro. Temos orgulho da Itatiaia claro, como da Inconfidência, fizeram escola.

2) Quais as rádios você trabalhou?

- Radio Minas AM (apresentei e dirigi o programa Ensaio Geral 1971)

- Diretor Artístico da 98 FM de 1972 a 1978

- Criei e fui Coordenador da Inconfidência FM, criei a Brasileiríssima ( 1978 a 1986).

- Coordenador das rádios 98 FM, Terra FM, Anchieta(Sistema Newton Paiva Del Rey de Comunicação) 1986 a 1988.

- Diretor Artístico da 107 FM, 1988 1992

- Consultor da Guarani FM, 2001



3) Qual o maior desafio em dirigir uma emissora de rádio?

Muitos. Como lancei várias, cada uma exigiu diferentes desafios. Em linhas gerais: apurar o feeling e pulsar com o seu tempo.
Criar um projeto artístico distinto para cada emissora(cada uma com sua cara).

Formar a equipe de produtores, programadores musicais, jornalistas etc. E ainda dar IBOPE sem estruturas internas(muito comum por aqui).
Com as rádios da rede Brasil, a briga ficou mais pesada para todas as locais né? E isto começou lá atrás há anos nas AM. Mas eu sempre acreditei em criatividade e não em "coordenadores(leia se gerentões
de rádio).  Fazer rádio é bem mais complexo. É muito mais que música, vinheta, comerciais e chamadas) É mais conteúdo cultural, de serviços. Eles, os gerentões que nada entendem de rádio, acabaram com  a alma, o sentimento de criação de um veículo de comunicação.

Foi este o motivo principal da minha saída do meio: desilusão. Me machucaram .
Muito e preferi, sem criar, me afastar definitivamente do rádio.
Se bem que muitos tiveram comigo esta atitude agressiva, quase física(prefiro me resguardar)
Para ilustrar o fato, a saída de alguns nomes do mercado, como o mestre Geraldão depois da Cultura, o Zancar Duarte(98, Terra e outras) o Dênio Albertini da Guarani depois de um belo trabalho, foi outro que jogou a toalha.
Quando fui chamado para a 107 FM, pelo Promove para iniciar o projeto com  um transmissor de 1 kilowatt(o mesmo que estava comigo na Del Rey) eu já não  tinha mais espaço para trabalhar no rádio.
Os projetos criativos murcharam.
Para mim o rádio é muito mais do que esquemas modernosos, scratchs, ou velhos DJs autofágicos: é linguagem de 30 anos atrás. Estão se repetindo em fórmulas e linguagem do século passado(é sério).



4)Como você vê o panorama atual do rádio no Brasil ?

O veículo anseia,mais que nunca de novos formatos e conteúdos. Elas se repetem.

Fiz rádios para jovens, adultos e contemporâneos. Todas foram "comportamentais"

Lembro, que o rádio criativo, é mutante e nenhum garoto gosta muito, de ficar se repetindo(nem em roupas).

O rádio veste seu ouvinte.O veículo é  catalisador do seu tempo.

Fico triste quando as pessoas dizem: ah aquela rádio que toca só MPB, ou a que toca sertaneja?

Fazer rádio assim, neste modelo de tocar apenas música, é muito limitado e seu  formato tem hoje muito mais efeitos e vinhetas que projetos criativos.
Limitam o veículo a ser adjetivado pelo “estilo de música que toca”, pop, rock, ou  Dance.
Há um medo de inovar e se der errado caírem na pesquisa.
Nunca tive medo e sugiro que também procurem novos formatos e que criem
Ousar SEMPRE.
É muito mais que 10 mais ou menos(ahahaha)
É um veículo de comunicação de um tempo.... e não caixa de músicas, uma atrás da outra


5)Como você vê o rádio daqui a 10 anos ?

Fazer futurologia é exercício de percepção e dedução. A internet abriu caminhos. Estamos vivendo o tempo da pulverização da macro, para micro mídia. Os conteúdos estão sendo pulverizados e os méios se multiplicam (os celulares por exemplo)
O tempo é de criar veículos híbridos que se multipliquem e exigem de novidades constantes. Isto muda tudo, pois tudo agora é meio(mas começo e fim)
Eu acredito que num único espaço, uma interface, teremos em um player ou tocador com centenas de canais, cujo conteúdo possa estar à disposiçào do ouvinte.
Antigamente o programador programava com um list não é?
Pois hoje, o veículo disponibiliza em streaming(sem ser preciso baixar a mp3) para o seu ouvinte, que tem o trabalho apenas de programar a tal sequência que quer ouvir.
Adeus programador de música. O controle agora está nas nossas mãos. Acabou o ouvinte passivo.
O conteúdo vai migrar para onde queremos tocar (o celular atual ja é um tocador de mídias)Em breve descobriremos muito mais criações para este mundo plural e integrado, mas sem eixos.
Novos formatos de mídias com seus conteúdos variados.
Programas em streaming para que cada pessoa possa programar a sua sequência musical ou outros conteúdos. Mudam as interfaces que precisam de conteúdos e criações.
É preciso ficar atento para isto: todos somos a mídia agora.
Acabou a máxima: VOZ DO DONO (OU É O DONO DA VOZ)
Fim da ditadura.
Nós queremos muito nós sabemos mais. Acabou amigo.
E o Brasil, este país plural? Tem uma música tão rica, que exige veículos muito mais ousados para mostrá-la ao mundo. Não ha limites. A internet abre esta democracia de estilo e gêneros.
O futuro chegou amigo que bom né? Somos agora a própria mídia, ou cada um faz a sua.

6)Como vê o profissional do rádio de hoje de maneira geral ?

Se for para fazer plágio, basta um cara para dar um play.

Há pouca criatividade no ar, apenas botões e máquinas frias. Fabricam DJs, mas derrubam a criação.

É um mercado que já foi melhor. As chamadas ecléticas( ficaram poucas) estão alinhadas e formatadas assim há anos. Surgiram "as que tocam notícias," mas são segmentadas apenas, é preciso mais para
jovens(cuja faixa vai desde o pré-adolescente) .Experimentei a 107 FM e há espaço até para babás eletrônicas.....(ahahaha)
Há muito espaço no ar e na grande rede para mudarmos sem limites .
Experimente, inove, crie, foi assim que revolucionamos alguma coisa..

Se não substituirmos o "Coordenador de Produção (quase um gerente de escalas de profissionais) por um "diretor artístico", eu não acredito que o processo criativo no rádio se renove ou saia das cópias. Será sempre uma orquestra sem arranjador ou maestro. Sem cara e sem coragem. Ou seria “zen” vergonha”. zen nada.

7) Você , sempre foi referencia para muitos profissionais de Comunicação devido a sua forma de trabalho, competência, etc.. Já pensou em escrever um livro com dicas de toda essa sua experiência?

Quem sou eu amigo.
Tive que encontrar saídas, entradas(até bandeiras) Isto me fez aprender a “me virar”
Passei minha vida (durante 30 anos) por detrás de muitas fms, fios, gambiarras, microfones etc.
Vivi o ensaio e erro, que bom.Tive que formatar tudo: projetos, veículos, profissionais e ainda dar
audiência.Ha uma tendência do departamento comercial, interferir no projeto do veículo, como se ele entendesse alguma coisa de rádio. Jamais tiveram feeling para dirigir uma e até mesmo sugerir. Atrapalham. Por isto vieram as coordenações e o jogo de poder. Perde o artístico sempre, mas o veículo perde muito mais, inclusive a audiência. Já trabalhei em fms que não faturavam com a rádio em primeiro. Preferiram derrubar a artistica e determinaram o fim e o fechamento(mais tarde a venda) da empresa.
Encarei muitas "guerras", inclusive políticas” numa rádio do governo onde fui afastado várias vezes(forças ocultas existem meninos) Depois me devolveram a coordenação até que nos demitiram(cerca de 50 profissionais) .Eu encarei muitas crises vindas deste embate entre artístico x comercial .
E eu nunca tive medo de ser feliz com que eu dirigia. Assumimos todas as barras juntos.
Por isto outras “cositas mas” deixei o rádio Mas não escondo que sinto saudades de tudo, eu acredito nele e nos profissionais. Há uma crise em toda a cadeia de comunicação. Mas a maior está no ar.
E a criação? Por onde andam os milagreiros de plantão. O merchandising não irá nos salvar amigos, acreditem. O rádio é mais que “efeitos especiais”. Hoje qualquer garoto faz.
Bem feito né? Isto propicia a mudança e a aprender a morrer, pois nada é eterno ou intocável. Tudo renasce....Tudo é permitido, tudo é maravilhoso(já cantava a Gal né??



8) Atualmente, quais rádios, programas de Tv, você curte?

Acho que muita coisa está como antes, sem muita criatividade( sem crítica a nenhum profissional ou veículo).
Minas tem, como sempre teve, um dos rádios mais criativos do Brasil.
Vamos continuar criando?
Isto significa: o rádio nunca foi apenas musicas ou apenas notícias, mas um catalisador"da nossa sociedade. É dinâmico e mutante.Tem que ser comportamental e in-temporal (não atemporal).
Na TV, o CQC, um programa que eu gosto muito. É inteligente num novo formato.
A nova TV digital está ficando cada vez mais linda né????
E mais: o controle está em nossas mãos, como tudo.
Gosto dos canais GNT, SPORT TV e MULTISHOW.
Estão dando um show de lay- out, conteúdos, ousados e criativos com novos talentos produzindo e criando muito.Viva a vida inteligente.Crise se vence com criação. Precisamos mais que nunca dela .
Viva o renascimento.

9) E as bandas, cantores, quem mais você ouve hoje?

Continuo ouvindo nossas bandas brasileiras e internacionais (a década está mudando e pelo que ouço pela internet (são milhares em streaming) tem muitas tendências e nenhuma música que seja a cara do terceiro milênio. Muita Beyoncés, Rihannas, que até gosto, mas saturaram .
Gosto do Techno e suas variações.
Mas gosto mesmo da nossa MPB, dos músicos brasileiros, gênios intemporais da "velha nova turma" dos anos 50, 60, 70,80. 90 e que continuam atuais, são matrizes eternas.
A música do terceiro milênio ainda não deu as caras para mim.
Assim sendo, continuo aguardando com ansiedade algum diferencial.
Afinal não é fácil bater estes velhinhos que ainda estão por ai arrasando
Dos novos, são poucos, prefiro esperar mais um pouco.
Minha geração é a da síntese e nada mais me comove dos Beatles, Stones, Genesis, Yes, Floyd, Miltons, Toms, Caetanos, Cazuzas, Cartolas etc e tal....Tem gênios ainda no ar, brasileiríssimos(o caldeamentos de todas as raças, a fusão, a integração).
Este é o novo velho rádio, alegre, criativo com a cara do nosso tempo, que vai e vem com o tempo, como uma onda no ar.

10) Pra finalizar, conta algum fato curioso, engraçado , que até hoje te faz lembrar dos bons tempos de rádio.
Aconteceu num dia muito estranho, o sol não apareceu(ahahaha)......(comercial)
Foi quando um locutor noticiarista brigou por qualquer motivo com o chefe de jornalismo.
O jornalismo da Inconfidência tinha uma máquina Olivetti no departamento que falhava e saltava teclas. Como no papel não apareciam as letras os locutores sempre deduzindo, cobriam o erro e completavam a falha no ar. Um dia, o chefe do Jornalismo chamou a atenção com o apresentador do noticiário por
"inventar palavras no texto lido. Ele, o locutor, falou pra gente:
_ Ah é assim? Então o que vier escrito eu leio.
Um dia leu a seguinte manchete se não me falha a memória: O`Vice- Presidente A.... C.... acaba de descer do avião amparado por "duas mulatas". Todos morremos de rir e o chefe subiu a escada(o estúdio era no andar de cima) com muita raiva pela "gafe" do noticiarista. O certo seria"amparado por DUAS MULETAS.
No caminho ele se encontrou com o referido locutor e ele sacou esta: você não disse que eu deveria seguir ipsi literis, como estava escrito?  Pois é, leia aqui. E estava lá MULATAS.
E aconteceram várias vezes depois deste incidente como uma outra vez: " com o naufrágio do navio na costa do país....(cita) morreram vários "papagaios" (a palavra corrreta foi digitada errada. O correto era PARAGUAIOS.
Qua qua qua.
Esta gafe foi para o ar em AM, FM E ONDA CURTA.



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