segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entrevista com Múcio Teixeira

E eu conversei com o Múcio Teixeira. Um nome de peso do rádio em Minas. Tive o privilégio de trabalhar com ele, bem no meu começo na Rádio Cidade. Lembro disso como se fosse ontem. Gincana da Cidade rolando na Praça do Papa e toda a equipe lá naquela adrenalina.
Bom, confiram esse papo com a história e opiniões de mais um grande profissional que atualmente é Coordenador Artístico da Rádio Alvorada em BH.


1)Conta prá gente como foi seu início no rádio e por quais emissoras você ja passou?
Comecei aos quinze anos na Rádio Cultura de Divinópolis. Na época, 1976, era a única emissora da cidade. Como meu pai tinha sido locutor esportivo lá durante muitos anos isso facilitou a abertura de portas. Também fui apadrinhado por um dos apresentadores mais carismáticos de lá, o Ailton Baptista, popular Batistão. Depois de lá começou minha caminhada: Rádio Jornal do Brasil, Rádio Cidade, TV Manchete, Rádio Guarani, Rádio Alvorada (quatro vezes), Rádio Extra (duaz vezes), Rádio Eldorado, TV Minas (quatro vezes).


2)A Rádio Cidade, é um capítulo a parte na sua vida. Tanto ouvintes, como profissionais do rádio sempre lembram de voce. É muita coisa prá recordar nestes bons tempos ao lado de Eugênio Magno, Paulo Roberto, Jorge Márcio, Edson Aquino, Bete Maia, Elisa ?
Foi um período muito marcante. É aquela velha história de estar na hora certa, no lugar certo e com as pessoas certas. 1981, quando tinha 21 anos, o Grupo JB era uma potência e resolveu implantar a Cidade também em BH. Ivan Romero Scoralick veio do Rio prá montar a equipe e fez muito mais que isso. Foi profissional, pai, irmão, conselheiro espiritual etc Tínhamos um espírito de equipe muito forte. Belo Horizonte era uma cidade grande e encantadora e totalmente aberta ás novidades. Foi mágico e a gente no fundo sentia isso, que estávamos participando de uma pequena revolução no rádio e, sem falsa modéstia, nos costumes mineiros.

3)Dizem, que muitos profissionais que hoje estão no mercado, principalmente os locutores, desde cedo já tinham seus locutores preferidos. Com você foi assim?? E qual rádio você ouvia e era um fã antes de se tornar um profissional?
Influenciado pelo meu pai, quando criança, eu era fanático por futebol e gostava e imitava todas as feras dos anos 60: Jairo Anatólio Lima, Jota Júnior, Waldir Amaral, Fernando Sasso. Depois, na adolescência, o futebol ficou em segundo plano e a paixão pela música explodiu. Eu era vidrado na Rádio Mundial e na JB do Rio. Meus ídolos dessa época eram Big Boy, Dirceu Rabelo, Luis Carlos Saroldi e Eliakim Araújo. Tive a sorte de, por alguns meses, ser companheiro de empresa do Saroldi e do Eliakim. A gente recebia vários programas da JB do Rio prá exibir em Belo Horizonte. Eu ia á loucura com a classe, o conhecimento, a elegância do Eliakim no programa Noturno entrevistando os maiores nomes da música brasileira

4)Atualmente você coordena a Rádio Alvorada, uma emissora com uma plástica muito bacana e agradável. Quanto tempo você você está na rádio?
Tenho uma história longa na Alvorada. A primeira vez foi em 1984 e fiquei menos de um ano. Voltei em 86 quando o Bessa, que trabalhava comigo na Cidade, assumiu a Superintendência e me chamou. Era uma seleção de apresentadores de primeiríssima: Beth Seixas, Paulo Leite, Carlos Holanda, Samuel Chaves. E a proposta do Bessa era muito inovadora para aqueles tempos: uma rádio adulta, com músicas de bom gosto, mas com muita informação e menos careta como as outras que existiam. Emplacou de cara!

5) Além do rádio, você está na Rede Minas?
A Rede Minas é um outro capítulo importante prá mim. Tinha tido uma pequena experiência televisiva nos anos 80 com o Breno Milagres e a TV Aeroporto. Mas no circuito normal considero minha estreia em 2001, no Jornal Minas, ao lado da Sandra Gomes. Em 2003 passei a apresentar sozinho. Em 2008 voltei como Editor e Apresentador do Emprego & Renda. E em novembro de 2009 fui chamado prá substituir o Hugo Alessi no Opinião Minas. Tá sendo ótimo. Somente eu e a produtora Ana Cláudia Ulhôa, que aos 21 anos já mostra que vai ser uma excepcional jornalista, fazemos tudo prá levar uma entrevista interessante todos os dias as 08:45.


6)Voltando um pouco a época da Rádio Cidade..O que você mais sente saudade daquele período?
De tudo: da rádio, que ficava num dos lugares mais lindos de BH, o Mirante das Mangabeiras; da equipe, que só tinha grandes profissionais e todos muito amigos; da capital mineira daqueles anos, sem a violência e os excessos de trânsito, especulação imobilária etc; dos movimentos musicais que pareciam explodir a cada dois anos.


7) Tecnologia. Ela chegou e ajudou o rádio. Mas você acha que com essa chegada, perdeu-se um pouco aquela coisa do locutor caprichar numa passagem, viajar mais no horário, etc? A coisa ficou muito mecânica?
O que acho pior no avanço tecnólogico é que muitos empresários do meio passaram a achar que gente é dispensável. Você tem hoje rádios transmitindo pro Brasil inteiro a partir de Rio ou São Paulo e que não tem ninguém em Belo Horizonte ou em outras praças. Mas vejo que essa deturpação do meio está cada vez com menos adeptos.

8) O que diria sobre a profissão, para os mais novos na carreira?
Estudar, aprender, viver novas experiências o tempo todo. E não esquecer nunca que do outro lado existe uma pessoa que merece e tem de ser tratada com o máximo respeito.

9)Alguma história engraçada do rádio prá contar?
Várias. Uma noite, em 81, eu e Alexandre Horta, que foi o primeiro Coordenador da Cidade, voltávamos de uma festa com alguns uísques na cabeça e de moto! Lei Seca era um futuro muito distante naqueles tempos. Eu estava na garupa. No cruzamento da Afonso Pena com Av. Brasil o sinal fecha e a moto apaga. Descí para facilitar o Alexandre fazer a geringonça pegar. A moto ligou, o sinal abriu, ele deu partida e foi embora sem notar que eu havia descido. Fiquei lá parado durante uns bons dez minutos me acabando de rir. Ele reapareceu andando bem devagar e procurando onde eu deveria ter me espatifado no asfalto . Disse que andou quilômetros falando sozinho e só estranhou quando não teve resposta na terceira ou quarta pergunta que me fez. Até o Alexandre morrer, em 89 num acidente de avião quando trabalhava na campanha do Collor, a gente sempre lembrava e caia na gargalhada com essa história.


10) Prá finalizar, o que o Múcio ouve e assiste?
Em 1986 fui mandado pelo Acílio Lara Resende, chefe da sucursal do JB em Belo Horizonte, prá passar uma semana com o Carlos Niderauer em Porto Alegre. O objetivo era que eu aprendesse a fazer rádio, já que era muito jovem e tinha acabado de assumir a coordenação da Cidade na capital mineira. O Nide era já uma figura lendária no rádio gaúcho e brasileiro pelo belo trabalho que fazia em POA. Levei um walkman e durante toda a viagem ficava ouvindo as rádios de todos os lugares que passava nos três aviões que tomei até chegar lá. Quando voltei contei isso pro jornalista Gustavo Gazinelli que sentenciou: você é um radiota! Ele tinha razão. Só que, com o tempo, continuei radiota e virei também videota. Ouço e vejo tudo, especialmente esporte, noticiários e filmes, compulsivamente.